quinta-feira, dezembro 31, 2009

O Mal...

O mal me inquieta. Pergunto-me o porquê do sofrimento na humanidade. Qual o motivo para tantos sofrimentos, males e dores? Pergunto por que sou cristão. Deus, como Onipotente que Ele é, onde está? Muito já foi escrito sobre o assunto, livros procuram dissecar a relação entre Deus e o mal, e nessa busca ou angústia uns afirmam “Deus é autor do pecado”, ou seja, do mal, e se sentem tranquilos com tal posicionamento. Para outros tão posição é uma blasfêmia! Não é simplesmente o dizer "é" ou "não é", e o artigo não tem por objetivo esgotar a temática, mas fazer uma brevíssima introdução.

Deus é o autor do mal? Alguns dizem que sim. Todavia Ele é o Bem Maior! Creio que Deus não é o autor do mal, mas em quais alicerces está a minha crença? Como explicar a maldade humana? Se Deus é Soberano, e é Soberano, como bom, não põe um fim no sofrimento humano, não muda o destino infeliz que muitos estão fadados? Seria Deus um déspota? Entre as grandes questões, há a "predestinação" e o "livre-arbítrio". O que significam?

Calvino, o grande teólogo da Reforma, sobre a predestinação, escreveu: “Chamamos predestinação ao eterno decreto de Deus, pelo qual determinou em si mesmo o que ele quis que todo indivíduo do gênero humano viesse a ser. Porque eles não são criados todos com o mesmo destino; mas, para alguns é preordenada a vida eterna, e para outros, a condenação eterna. Portanto, sendo criada cada pessoa para um ou outro destes fins, dizemos que é predestinada ou para a vida ou para a morte” (Calvino, Institutas, Livro III, Cap. XXI, § 5). Como explicar as afirmações de Calvino? Se uns nasceram para vida e outros para morte, simplesmente cumprem uma biografia pré-natal? Ora, se uns foram predestinados para a morte, eis o porquê de toda maldade, a explicação para o sofrimento! Se uns sofrem e outros não, é uma escolha que não pode ser feita, como disse Calvino: "determinou em si mesmo o que ele quis que todo indivíduo do gênero humano viesse a ser". Se aceitarmos o determinismo como resposta, temos que concordar: "A queda de Adão, o adultério de Davi, o estupro que acabou com a honra da mocinha, o holocausto de Hitler, o genocídio de Ruanda, o tiro que matou o suicida, o intocável que morre nas calçadas de Calcutá. A constituição genética de todos os seres humanos foi escrita e determinada por Deus e todos já nasceram com suas vidas prontas" (Ricardo Gondim, A Liberdade). Tenho problemas com o determinismo, Deus não determinou a desgraça para alguns aqui e o paraíso para outros, não consigo conceber o "deus" dos medievais.

E o livre-arbítrio? O vocábulo tem sido o divisor de águas entre os Calvinistas e Arminianos nos últimos séculos. Dobro os joelhos e agradeço a Deus por ter-me agraciado com sua preciosa salvação, porém tenho tido dificuldades para aceitar o determinismo calvinista, pois não consigo desvinculá-lo do mal. Na Confissão de Fé Batista de 1689, no capítulo 9, lemos "Deus dotou a vontade humana com a liberdade e o poder natural de agir por escolha, sem ser forçada ou predeterminada por alguma necessidade natural para fazer o bem ou o mal (Mt. 17.12; Tg. 1.14; Dt. 30.19)." Nas palavras de Arminius "Esta é a minha opinião sobre o livre-arbítrio do homem: Em sua condição primitiva, conforme ele saiu das mãos de seu criador, o homem foi dotado de tal porção de conhecimento, santidade e poder, que o capacitou a entender, avaliar, considerar, desejar, e executar o bem verdadeiro, de acordo com o mandamento a ele entregue. Todavia nenhum destes atos ele poderia fazer, exceto através da assistência da Graça Divina. Mas em seu estado caído e pecaminoso, o homem não é capaz, de e por si mesmo, pensar, desejar, ou fazer aquilo que é realmente bom; mas é necessário que ele seja regenerado e renovado em seu intelecto, afeições ou vontade, e em todos os seus poderes, por Deus em Cristo através do Espírito Santo, para que ele possa ser capacitado corretamente a entender, avaliar, considerar, desejar, e executar o que quer que seja verdadeiramente bom. Quando ele é feito participante desta regeneração ou renovação, eu considero que, visto que ele está liberto do pecado, ele é capaz de pensar, desejar e fazer aquilo que é bom, todavia não sem a ajuda contínua da Graça Divina." (James Arminius, Sobre o livre-arbítrio do homem)

O livre-arbítrio nos faz compreender o porquê da depravação humana ou do sofrimento na humanidade. Deus criou homens livres e com liberdade. Após a queda, temos homens livres, mas que não mais possuem liberdade. O homem está depravado e incapaz de pelos seus esforços alcançar a fé e o arrependimento, porém não faz o que Deus determinou ou preordenou, mas o que o pecado determina ou ordena, "Todos se extraviaram; juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. A sua garganta é um sepulcro aberto; com as suas línguas tratam enganosamente; peçonha de áspides está debaixo dos seus lábios; a sua boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. Nos seus caminhos há destruição e miséria; e não conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante dos seus olhos." Rm 3.12-18.

O mal tem sua raiz no pecado, e nele encontramos suas consequências. Sua origem no universo encontra-se em Lúcifer e na humanidade em Adão. Lúcifer e Adão, dois vocábulos, dois conceitos, um oceano de inquietações, lados distintos que se encontram em um único lugar, no que chamamos simplesmente de MAL.

quarta-feira, dezembro 09, 2009

Um pássaro na gaiola

Cada dia que se passa perco o encanto com o que chamam de “igreja”. Pergunto-me se o que vejo é a “Igreja” que Jesus fundou. Queres saber como é ser cristão nas cidades interioranas? Um pássaro em uma gaiola. É como me sinto, é como muitos se sentem, é uma verdade que não podemos negar. Às vezes me sinto como um cristão na Idade Média, sua opinião é o suficiente para o lançarem na fogueira, e queimar, queimar, até restar somente cinzas.

Infelizmente, muitos saem de uma gaiola e entram em outra (acho que me incluo aqui). O espaço é maior, podem voar um pouco mais, mas não se engane, não é vôo, pois continuam em uma gaiola... Não me sinto confortado em um ambiente onde não posso andar de acordo com o Espírito (Gl 5.25). Estou cansado de proibições, estou cansado de regras. Ser cristão não é ser oprimido, muito pelo contrário, leio nos Evangelhos que Ele foi enviado para “proclamar libertação aos cativos” (Lc 4.18). Quando digo cansado de proibições, não me entendam mal: se você congregasse em uma igreja legalista me compreenderia. Fazem inferno com coisas insignificantes!

Cristo afirmou: “as portas do inferno não prevalecerão contra a minha igreja” (Mt 16.18). Dói, mas o que contemplo não é a Igreja de Jesus, é a “igreja” que mata, desconstrói e escraviza, e nesta o inferno prevaleceu. Jesus não nos chamou para sermos pássaros presos em gaiolas, nos chamou para sermos livres: “e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8.29). Sim, Cristo me libertou do pecado e de todo jugo, não sou mais escravo, não tenho mais algemas!

Sou livre ou sou mais um cristão preso em uma gaiola? Eis a questão.

sábado, abril 04, 2009

Apenas notas...

Esforço-me para escrever as inquietudes da minha frágil alma. E não são poucas as ocasiões em que estou diante da tarefa de escrever e simplesmente não escrever nada! Admiro os poetas da escrita, ou melhor, os compositores da escrita, pois seus textos são verdadeiras composições musicais, música para o espírito, suaves notas.

Mas porque a dificuldade? Será escrever talento? Como os grandes músicos que fizeram história? Talvez medo. Ou os motivos que nos fazem escrever. No meu caso para ninguém ou para os poucos que param para ler essas linhas, leitores que lêem pelo prazer da leitura, ou como eu, almas inquietas com suas dúvidas, frustrações. Ou simplesmente procurando uma melodia que acalente seu espírito e para esses digo: não me tornei músico da escrita, mas um apaixonado, um amador, que só compõe notas desafinadas, mas que agradece a singela atenção.

O que nos faz escrever? Apenas para compartilhar o que borbulha em nossa alma, ou o que precisa ser compartilhado... E o que não deve ser compartilhado? Na verdade nem sempre a música agrada a todos os ouvidos, os diversos ritmos atraem uns e afastam outros. Da mesma forma os escritores tem em companhia os que se apaixonam pelos seus escritos e os que odeiam. E se expor é procurar aliados e também inimigos, infelizmente. Assumir nossas fraquezas é ir contra os fundamentos da “religião”, ou mais precisamente do evangelho triunfalista. Se considerar fraco é o bastante para lhe enquadrarem entre os vencidos pelo diabo. Porém, não posso ir contra a minha consciência e ela me diz que sou pecador, fraco, pobre de espírito... E por mais que aparentemente não, ela se encontra aliada as Escrituras que nos diz “Todos pecaram”.

Certezas e dúvidas, acertos e erros, vitórias e derrotas, alegrias e tristezas... Um turbilhão que sacode a alma! São muitas as razões que nos fazem escrever. Por exemplo, agora escrevo e pergunto porque escrever? Apesar de não ter talento para o que considero arte continuo tentando, quem sabe com esforço e dedicação um dia não componho uma sinfonia de palavras? Permita-me sonhar e delirar um pouco. Mas se encontram inspiração no que aparentemente é insignificante, não encontraria eu inspiração na minha cansada e inquieta alma?

Como ainda não sou músico das palavras, eis aqui notas, apenas notas sem harmonia...