sábado, janeiro 07, 2006

"A minha graça te basta..."

Li a carta anônima de um pastor da "Deus é Amor" em um site. A leitura me fez lembrar dos quatro anos que fui membro e obreiro desta denominação. Na carta lemos a alma deste pastor, que por anos defendeu e obedeceu os costumes como "doutrina", até o momento que os seus olhos foram abertos pela leitura das Escrituras. Hoje se encontra em luta, pois é pastor da denominação, e deseja ser expulso, para pregar o evangelho genuíno da graça de Deus.
Também preguei os costumes e as "revelações", e denominei aqueles que eram contra como rebeldes, mundanos e carnais. Porém, interiormente se encontrava em uma luta interior, pregava e mostrava nas Escrituras que o que defendíamos era a verdade, mas os versículos eram forçados, manipulados para afirmar o que não afirmavam. Comecei a questionar, a ler a Bíblia Sagrada sem as óticas da denominação, e as verdades da graça de Deus começaram a ecoar na minha alma.
Lembro quando subi no púlpito no culto de "doutrina" para defender o item do Regulamento Interno que dizia que "as irmãs não podiam cortar o cabelo, pois era pecado." Os meus argumentos eram complementados com a sinceridade de um devoto fiel, pois acreditava ser a verdade o que era imposto, apesar de interiormente uma luz dizer que não. Outro dia, fui explicar a "revelação" que a televisão era a imagem da besta (um absurdo!!!), eu sabia que não, e qualquer leitor da Bíblia sabe que não, porém tive que de certa forma defender a posição do nosso "líder" com "base" nas Escrituras e convencer os membros que sim, a televisão era "a imagem da besta". E tantos outros argumentos, que não passavam de mentiras, para defender os costumes e regras. No auge do legalismo li o livro "É proibido, o que a Bíblia permite e a Igreja proíbe" de Ricardo Gondim. Conclui a leitura e critiquei o livro em uma de minhas mensagens e denominei Gondim de apóstata, proclamador de heresias. Hipocrisia! Interiormente eu sabia que o livro retratava a verdade, que nós queríamos encobrir.
Os membros a quem eu pregava eram almas doentes, como eu, andávamos com medo do inferno se abrir abaixo de nós e nos tragar. Relatos dos mais absurdos presenciei. Um dia uma irmã me procurou para me perguntar sobre certo "pecado", a minha alma chorou, eu sabia que não era pecado, mas como líder não podia ser contra o que o nosso "livrinho de leis espirituais" ditava. Com cautela procurei dizer que não era pecado, mas foi em vão minha tentativa, o supervisor em uma reunião desfaz o que eu havia dito. Eu não mais suportava o legalismo e a hipocrisia dos líderes, que no púlpito maltratavam os membros com palavras ásperas, mas suas vidas eram completamente diferentes do evangelho de Cristo.
Hoje olho para trás e me pergunto como fui capaz de defender heresias, costumes e regras que escravizam a alma. Não estou no dilema do pastor que espera ser expulso, saí para viver o evangelho de Cristo. Mas são muitos que até hoje sofrem, vítimas de vítimas, um ciclo que está longe de ter fim. Graças a Deus, porque um dia a voz dos céus bradou no meu coração "a minha graça te basta...", libertando-me das correntes que me escravizavam.

2 comentários:

Gustavo Nagel disse...

Fala Vágner!

Eu dou graças a Deus por tudo que tem acontecido contigo. SAiba que nutro um grande respeito e admiração por ti e que procura lembrar de ti nas orações e tal.

Eu não sabia que teu envolvimento com o pentecostalismo tinha chegado a tal e nem que era da Deus é Amor.

De qualquer forma, louvado seja Deus que, ao seu tempo, nos conduziu à verdade.

POr último, eu fui olhar no dicionário sobre o nome do teu blog. Muito criativo! Tomara que o objetivo seja consigo: desquietar essas mentes por aí.

Grande abraço, meu amigo.

Jorge Oliveira disse...

A vida de um cristão é uma aprendizagem contínua.
Hoje. Um novo dia.
Abraços.
JO